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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um velho mal entendido


Eu sou um cara bom. Um cidadão respeitável que pensa nos outros e odeia injustiça. Sou uma pessoa caridosa. Sempre que passo pelas ruas e vejo um miserável na calçada jogo-lhe algumas moedas. Não suporto a miséria.  Não vejo idade, cor ou sexo. Sempre que posso guardo moedinhas para distribuir entre esses pobres coitados. Não há um pedinte que vá a minha casa e não lhe dê pelo menos um cafezinho com pão e margarina. Me dói a idéia de ter tanta coisa em casa, tanta comida e outras pessoas, gente como eu, não terem nada. A miséria econômica me fragiliza, mas a espiritual e a intelectual me revoltam. Acho que por conta das duas existe a primeira.
Sonho com um mundo justo onde as pessoas tenham direito igual à comida, educação, saúde e segurança. Onde o desemprego, as misérias e mazelas da desigualdade sejam lembrados com vergonha. Que nossa ganância seja sempre exposta em museus e livros e jornais para que a gente não se esqueça do tempo de escuridão moral e espiritual que nos assolou.
Votei neste governo que está aí por causa da proposta de erradicar a praga da pobreza do Brasil. Vejo avanços, com certeza, embora a distância para atingir o objetivo principal as vezes tenta me desanimar. Mas persisto. Sou um otimista e a melhor arma para um otimista é a paciência. Sei que não é fácil acabar com uma mazela – uma cultura, na verdade – secular em quatro, oito, doze, dezesseis anos ou mais. Mas se não dermos o primeiro passo não andaremos nunca.
Não compactuo com ideologia política alguma. Não sou nem muito ligado nessas coisas. Voto em quem se compromete com o social e com os bons costumes. Mas eu poderia pensar de outra forma. Penso assim porque sou mesmo um cara de bem.
Poderia ficar na minha olhando para meu umbigo, criando meu filho dentro dos bons costumes que recebi de meus pais; lendo meu jornal, tomando minha cervejinha no fim de semana, essas coisas. Sou funcionário público concursado, alcancei cedo a tão sonhada estabilidade financeira, pago todos os meus impostos em dia, tenho meu carrinho, sou casado, pai de um filho que está cada dia mais esperto e logo, logo entrará para a escola. Alcancei tudo o que um homem de bem e de bom caráter pode desejar: prover sua família de sustento, cuidar dela, protegê-la.

Mas vou além do convencional. Penso no outro, pois pude ter tudo que tenho e a maioria sequer teve direito à escola básica, emprego, saúde e hoje se espremem nas calçadas mal-cheirosas das cidades. Devo admitir que um sorriso destes desdentados que arranco ao fazer uma boa ação salva o meu dia, alegra-me a alma. Me conforta.
Isso não é justo. Um irmão meu, um semelhante! O Mestre não nos ensinara que é na caridade que chegamos a Ele? Não nos disse que deveríamos amar a nosso próximo? Dar mais que receber? Não foi nosso Senhor que disse: meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem? Não foi Ele que abdicou dos prazeres da vida, doou seu sangue para nos mostrar o caminho de uma vida austera, porém de comunhão e elevação ao Pai? Pois então! Qual o direito que o homem tem de subjugar outro homem, de explorá-lo, de condená-lo à miséria, à fome?
Mas fico cá pensando agora... Se fossem todos iguais, com iguais condições de provimento das suas necessidades, a quem eu ajudaria? Como faria a caridade orientada pelo meu Senhor? Como eu poderia alcançar o Divino sem esmolas para dar, sem aqueles sorrisos desdentados de reconhecimento e devoção quando lhes dou um punhado de feijão de ontem com café requentado? Que direitos o homem tem de privar minha comunhão com Deus? E meu orgulho de bom cristão, de bom cidadão? É para isso que vocês lutam? Erradicar a pobreza para que um homem de Deus como eu tenha cerceado o direito de trabalhar em prol do meu engrandecimento espiritual? Que homem, que governo, que ideologia tem o direito de acabar com a minha paz interna, com meu conforto após um ato de caridade? Precisamos da miséria alheia para fazer o bem. Precisamos da miséria econômica, moral, intelectual e social.
As misérias de uns são a salvação de outros! Caridosos de todo o mundo, não permitam que os desertores de Deus nos impeçam de chegar até Ele! Lutemos para que nossos filhos sintam orgulho de seus pais! Somos a vanguarda cristã em favor das desigualdades. Não deixemos aqueles que utilizam a igualdade social como arma principal de seus programas de governo e objetivo de vida invada nossas casas, destruam nossas famílias, humilhem-nos diante de nossos filhos! Somos iguais perante Deus e isto é o que importa. A Palavra do Senhor triunfará!
Caridosos do mundo inteiro, uni-vos!  

Dodô Cavalcante

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