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sábado, 31 de dezembro de 2011

Entre deuses e céus


- Olha o céu
é tão longe
e parece nos pedir calma
- Parece nos pedir atenção
.
O céu é pertinho
e do alto da Sé
eu o tenho
um pouquinho nas mãos
.
deus vem e vai
aqui e ali dá pitacos
na  terra
mas, ai de vós – ou algum anjo -
se meter o bedelho no céu
.
em Olinda deus é mudo
há tanto padre
a falar por ele
e quantas donzelas
esperando…
(há muito, deus mantém
um harém na terra)
eunuco?
Eu falo do céu
porque moro em Olinda
cruzo com deus
em toda esquina
Há uma cordialidade entre nós
ele é mudo, mas acena
eu lhe abençôo um poema
pois somos poetas
cordiais e camaradas
muito embora
de estilos diferentes
ele, concretista
eu, mais da alma, mais do eu
ele dos homens
eu mais de Deus
.
Mas o céu é tão perto
em Olinda
é tão longe do inferno
Em Olinda
tudo é calmo, tudo é belo
Olinda
é um céu cheio de virgenzinhas – velhas virgenzinhas
………………………………     [frustradas de um deus eunuco -
.
Em Olinda
o silêncio é azul e branco
o ano inteiro, mas em fevereiro
os demônios
tingem-no de frevo.

Dodô Cavalcante

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Fragmentos


A esquina e o acaso
o grito de um morto
e suas lembranças da vida
O som das estrelas mortas
e o balé encantado de um cometa
A mão estendida
e a tapa na face
a outra face
Um verso na calçada
ou esquecido na gaveta
O fim de um poema
a morte de outro
A falsa liberdade poética
e a meta-poesia
a poesia…
O filho apunhalando
o pai transando com a mãe
e o desconsolo de Deus
O beijo de Maria
e o arrependimento de Deus
O colo de Maria
e o fogo de Deus
O riso de Maria
e a vontade de Deus
A virgem Maria
e o menino Jesus
o alívio de Deus
.
Um poema sem versos em
fragmentos de imagens

Dodô Cavalcante

Cinema


Em cena
o poeta (o vilão)
a caneta (a arma)
o papel (aonde)
o verso (a forma)
poema (encenação)

há cena
no sorriso de canto
no poeta no canto
no ensaio do canto
que encena

Em cena
a dor no poema
acerca do mesmo
tema: o amor
sem tamanho
nem trena
que meça
o valor

A cena final
a pequena, afinal
acena, enal-
tecendo o seu
adeus sem pena

Dodô Cavalcante

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Amorzinho Mixuruca


Um dia
De tão lento
Se foi
Tarde

O amor
De tão quieto
Foi cedo

Foi cedo o amor
Num dia longo
Ardia a cama
Ainda arde

Eterna espera
(fim de tarde)
Que o dia acabe
(nem tão cedo)
É terna a cama
(já nem arde)
Destarte o amor
Não dá medo
Morreu de dia
O amor
Morreu-se de tédio
O dia

Dodô Cavalcante

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Flagra


Era claro
E eu sempre achei
Que nunca seria assim
Você, uma rosa, um olhar,
Mas não eram pra mim
Ainda assim retoquei um sorriso
Ensaiei um perdão

Foi tão dado
Como sempre me fez
Ao querer me fazer perdoar
Me pedia baixinho e já vinha
Em meu peito deitar
E calada chorei no meu canto
As mentiras de então

Fracassado
Um amor que um dia
Sonhei e teimei existir
Me deixei, me neguei
Por querer até me esqueci
E a renúncia vestia
Essa dor seminua de chão

Acabado
O teu beijo me mata
Agora e não é de amor
Teu sorriso me crava
No peito o espinho da flor
Teu olhar me engasga
E me acorda de um sonho em vão

Dodô Cavalcante

domingo, 25 de dezembro de 2011

Sobe e desce em Olinda


Ô, linda
menina descendo
ladeira mexendo
mareia
clareia e o dia
se ia
por onde
a menina
descia a ladeira
em Olinda
e dizia
que via
em Olinda
o dia
brincando
de tarde
e a noite
de dia
nas costas
da moça
que ria
e se ia
subindo
a ladeira
e na lua
sumia.

Dodô Cavalcante

sábado, 24 de dezembro de 2011

Dos mitos, dos deuses e quase-deuses


Elvis Presley da Silva
Bob Marley da Silva
e Jesus de Nazaré

Adolf da Silva
Stalin da Silva
Fidel Castro da Silva
e Ernesto Guevara

D. Pedro da Silva
Princesa da Silva
Crioulos da Silva
e Zumbi dos Palmares

Karl Marx da Silva
Nietzsche da Silva
Jean –Paul Sartre da Silva
e João Paulo II


Obama da Silva
Luis Inácio da Silva
Hugo Chavez da Silva
 - E agora, José?

Dodô Cavalcante