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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Tercetos parte II

VI
Flores pra morte
refazem
amores

VII
Descança no céu
no inferno
se dança

VIII
Hai-kais
ou tercetos
não se sabe mais


IX
Sorte
beijar a vida
deitar-se com a morte

X
Conversa fiada
a dois
se paga

Dodô Cavalcante

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sobre poemas e mentiras


Havia um verso num Poema
apenas um verso
e tudo o mais era silêncio
eram espaços entre versos

Era um grito
de dentro para dentro
a loucura aceita
não era mensagem
apenas grito
e silêncio
...
O Poeta escreve
seus demônios
e as pessoas – esses demônios! –
maliciosamente
conferem-lhe sentidos
e genialidade

Os Poetas são loucos libertos
mas quando gritam
classificam seus berros
de arte – prendem-nos em teses –
e morrerão gênios ou malditos
para sempre
quando alguns são felizes
em ser
breve
...
Certo dia abri um livro
 e dentro dele haviam poemas
e em nada me tocaram
suas imagens emolduradas

Eu procurava
por algo, aflito
e corria de mim
à minha procura
e não via nada
que não fosse eu mesmo
nada que não fosse velho
sujo
feio
com aparência eterna
Desinteressado por toda
história ocidental
insatisfeito com o graal
descoberto – a tal
estabilidade
perguntei por que os versos
haviam de ser escritos
se os Bêbados dançam-nos
desapercebidos pelo Recife
as Putas
vendem os seus
a conta-gotas
a sedentos empresários
os Travestis chacoalham
as estruturas de corpos e almas
confere-se novos
sentidos à poesia
e eu às voltas com os sentidos das coisas
com as coisas sem sentido
...
Deus olhava minha
prateleira de livros
atentamente e dizia
que a partir do meu lixo
seria fácil me conhecer
perguntei-lhe, então
o quão longe estava ele
da Criação
disse-me que ao criar o Mundo
usava luvas
e avental
...
Eu sou dois mil anos
de acúmulo
quantos mil anos a mais
terei de ser?

Minhas cheias
não destroem vilas
nem fertilizam
as margens
não há meandros
nem oceanos a encontrar
há apenas a doçura
barrenta das minhas águas
que de uma forma ou de outra
eu tento
salgar

Dodô Cavalcante

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Soneto


(Este Soneto é de autoria de Fábio Cavalcanti. Espero que gostem. Eu gostei muito e sou grato por demais a Fábio pela contribuição.)

Solidão, conte-me outra

Pois essa que ela não volta 

Não me convence mais



Noites a fio madrugadas a dentro 

A esperar em seu tormento

A visita que não vais chegar.



Mas um dia darei a volta por cima

Não me importa a trilha da dor

Levarei às águas profundas

Para afogar esse amor



Não serei completo

Nem tão pouco melhor

Mas pelo menos solidão

Não te verei feliz.

Fábio Cavalcanti

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O poeta e o pôr do sol


O que me resta
é um restinho de mim
            sozinho
            velando
as cinzas da tarde
a alma no fim

- e de onde vem
essa luz tão fraquinha?
- silêncio!
Um poeta escreve
o que lhe resta
de dor...

já é noite, então
pôs-se a alma
enfim

Dodô Cavalcante

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Trans...


Em plena praça
misturavam-se
os perfumes
ninguém sabia
das mãos
as línguas
inexistiam
pau e vagina
de quem eram
não importava
ao amor
fluído

Dodô Cavalcante

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Silêncio (em construção)


um grito por dentro
lágrima,  sangue
e suor
em versos
cores
e gostos
.

.
por dentro
dança
a lâmina
sem música
.
por fora
sem par
disfarça
uma lágrima

....

rubra cor
de um riso
no preto e branco
de cal e asfalto

...

é agridoce
o silêncio
que música tocava
na alma
enquanto dormia?

...

eram bends
num blues
esse grito
por dentro.

Dodô Cavalcante

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A noite e o poeta


verso escuro
dor às claras
fujo
brumas
e mar
sem vento
nem volta
sou verso
sorriso e
estrada

Dodô Cavalcante

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Exposição II


Eu sou o anúncio
da beleza no mundo
o expurgo
de carnaval
o vendilhão expulso
poema e flor, eu sou
Leve-mente borboleta
lua e sol
o bom do mal
o silêncio entre os versos
o espaço da respiração
Segundos a menos, sou breve
a oração terrorista
o pavio suicida
sou o entre-o-click-e-a-explosão
O velho poeta
o boi morto, a tia Élida
um poeta novo. A espera
e o leito de morte
O pulmão infiltrado
o tango argentino
e a engenharia poética
a desordem concreta
Um sorriso, um risco
na história do mundo

Dodô Cavalcante

domingo, 8 de janeiro de 2012

O risco e o riso


Um risco
é o verso
do poeta
analfabeto

um riso
amarelo
é a alegria
do pedinte

é riso
o corisco
é risco

é risco
a vereda
pro riso

o risco
do rosto
sorriso



um riso
sem dente
desgosto

um riso
no cheque
é risco
político

um risco
no prato
é riso
raquítico

Dodô Cavalcante

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sonhos


Dentre os sonhos que tive
recentemente
apenas um parecia comigo
era quente e me entendia azul

mas não era denso
nem um só
eu era mil
a me perseguir

o que queriam os outros
o que sentíamos nós
ao vermos caírem
nossos trajes

lembrávamos
é sonho – somos
Então deixemos
sejamos nós
sonho e descoberta

era eu aquela mulher?
(descoberta)
Era meu aquele desejo?
(era sonho)
éramos

Éramos
indo nus
sendo jus-
tamente
um sonho de nós

Eu era meu sonho
de mulher
e meu sonho de homem
sonhado por ela

e fomos
andando
soltos
pois era sonho
e havia de ser
leve

Éramos nós
Eros eu

Dodô Cavalcante

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Pesadelos


Tem-me ocorrido pesadelos
terríveis. É o mesmo pesadelo
em diferentes  ocorrências

há amigos – todos
eles bem quistos
Muitos motivos celebráveis
Mas uma saudade estranha entre nós

E estamos todos lá na vida
E na morte sob iluminação nublada
Tudo é cinza entre nós

E há uma angústia
Uma espera por algo que tarda
uma revelação
uma despedida

E é como uma despedida
Como se fosse para algum lugar
Como se houvesse para onde ir
Como se não houvesse o que fazer

a angústia é cinza
a espera é cinza
os sorrisos são cinzas
e o destino também

Todos esperam não se sabe o quê
Todos riem e ninguém sabe do quê
Todos dançam, bebem, gritam sem ter pra quê
E eu tenso com um relógio na mão

É um pesadelo estranho
Eu sou um cronista
O observador que descreve a trama

O que fariam os outros
Se não estivessem no meu sonho?
Em que outros sonhos estariam
Festejando outra angústia – angústia de qual cor?

De repente as coisas não fazem
mais sentido. Tudo é noite e eu
corro feito um louco
Fujo
Há pessoas à minha espera
e outras à minha procura
eu corro e envolvo a todos
na escuridão
cachorros latem, avançam
não são pessoas atrás de mim
são gritos, pensamentos,
satisfações a dar
valores, princípios, julgamentos
todos me procuram, todos me caçam
no momento seguinte
há muita gente
é Carnaval em Olinda
é diferente, não é Olinda
mas é lá
é cinza o Carnaval – não a quarta-feira
parece o mesmo sonho
as mesmas sensações
pessoas
cores
espera
e alguém a me mostrar que sempre
há outra vez...

Dodô Cavalcante

domingo, 1 de janeiro de 2012

Grito de um suicida inveterado


Um morto com suas
lembranças da vida
remói-se todo
e grita: “se houver
vida após a morte
me mato de novo”

Dodô Cavalcante