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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sobre poemas e mentiras


Havia um verso num Poema
apenas um verso
e tudo o mais era silêncio
eram espaços entre versos

Era um grito
de dentro para dentro
a loucura aceita
não era mensagem
apenas grito
e silêncio
...
O Poeta escreve
seus demônios
e as pessoas – esses demônios! –
maliciosamente
conferem-lhe sentidos
e genialidade

Os Poetas são loucos libertos
mas quando gritam
classificam seus berros
de arte – prendem-nos em teses –
e morrerão gênios ou malditos
para sempre
quando alguns são felizes
em ser
breve
...
Certo dia abri um livro
 e dentro dele haviam poemas
e em nada me tocaram
suas imagens emolduradas

Eu procurava
por algo, aflito
e corria de mim
à minha procura
e não via nada
que não fosse eu mesmo
nada que não fosse velho
sujo
feio
com aparência eterna
Desinteressado por toda
história ocidental
insatisfeito com o graal
descoberto – a tal
estabilidade
perguntei por que os versos
haviam de ser escritos
se os Bêbados dançam-nos
desapercebidos pelo Recife
as Putas
vendem os seus
a conta-gotas
a sedentos empresários
os Travestis chacoalham
as estruturas de corpos e almas
confere-se novos
sentidos à poesia
e eu às voltas com os sentidos das coisas
com as coisas sem sentido
...
Deus olhava minha
prateleira de livros
atentamente e dizia
que a partir do meu lixo
seria fácil me conhecer
perguntei-lhe, então
o quão longe estava ele
da Criação
disse-me que ao criar o Mundo
usava luvas
e avental
...
Eu sou dois mil anos
de acúmulo
quantos mil anos a mais
terei de ser?

Minhas cheias
não destroem vilas
nem fertilizam
as margens
não há meandros
nem oceanos a encontrar
há apenas a doçura
barrenta das minhas águas
que de uma forma ou de outra
eu tento
salgar

Dodô Cavalcante

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