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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Lembranças de hoje


Pensava em mim enquanto o céu se enfeitava de nuvens carregadas. Minha avó dizia que a chuva era o pranto dos sofredores. Acumulados, somavam-se em nuvens já que pediam aos céus alento para seus pesares. Uma vez transformados, choviam. Era o que os céus entendiam por alento. De fato, no Recife ou em Olinda a chuva é motivo para esquecer qualquer problema... ela passa a ser um. Coisas do céu. Ele escreve certo por linhas tortas, dizem. Lembro de ter perguntado à minha avó se o nome científico de algumas nuvens ser cummulus, se devia ao fato de serem acúmulos de prantos, ao que ela sorrindo de lado respondia: “sim, meu filho. É provável.” Como era esperta a minha avó! Hoje eu a acho sábia. O céu hoje é meu. Foi só começar a pensar em mim e ele escureceu. “Uma coisa leva a outra”, disse-me a ultima brecha azul. Era a mesma voz da minha avó – doce, porém, fatalista. Era aquela brisinha num dia escaldante de verão. Como se dissesse que o sorriso é apenas um consolo para tanta amargura – no que a vida se transformou. Vovó me dizia que sorria muito porque era responsável por consolar os outros, que um sorriso contagia e estimula outros sorrisos. Mas eu fui ser poeta, não haveria de alentar ninguém. O céu foi claro comigo: “uma coisa leva a outra”. E nem era fim de tarde, nem pensava em amores, nem na situação política do país, tampouco nas dificuldades do cotidiano causadas pelos excessos de normas, rótulos, expectativas e coisas assim mas porque tudo pode vir a ser poesia.

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